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terça-feira, 18 de agosto de 2015

Fanfic: Bad Girls Don't Cry - Capítulo 8 -- Relato de Antonietta

   Já se passaram dois dias e eu ainda não esqueci como Caleb chorava enquanto eu dormia. Os últimos dias foram como um borrão. Caleb ficou sumido grande parte do dia e, quando eu finalmente consegui andar normalmente, um sujeito encapuzado me amarrou.
   -- Onde sua mãe mora? – perguntou-me ele.
   O sujeito vestia-se inteiramente de preto, mas, por baixo do capuz, vislumbrava uma barba cinzenta e grossa. E, pela voz, devia ter uns 40 anos de idade.
   -- Não vou dizer. Nem te conheço. – foi aí que me arrependi de ter aberto a maldita boca.
   O sujeito dera-me um tapa que dói até agora e tornou a fazer a pergunta. Desta vez, permaneci calada e acabei levando um torrente de tapas, socos e puxões de cabelo. Agora, horas mais tarde, estou novamente sem conseguir andar e chorando amarrada numa cadeira, feito uma criança birrenta. Caleb ainda não voltou de seja lá onde fora.
   Por que eu me importo tanto com esse meu suposto sequestrador? Por que logo o meu “prometido” está me mantendo aprisionada nesse lugar? E, o mais importante: por que eu sinto que Caleb não tem interesse nenhum em me machucar? Mas eu não tive tempo de repensar sobre isso. Caleb irrompeu na sala feito um louco e se jogou na frente da cadeira onde estou.
   -- Droga! – gritou. – Antonietta, você está bem?
   O olhar no rosto dele era novamente aquele que eu não sei o quê significa, embora eu saiba que não sou boa para ler expressões. Ele rapidamente desamarrou as cordas que me prendiam mas, mesmo contra minha vontade, eu desabei em seu colo. Meu corpo não respondia aos meus comandos e a dor era absurda. Ele me pegou e saiu andando rapidamente e, quando vi, estávamos no “espaço” em que eu tinha tomado banho.
   -- Me desculpe, me desculpe, me desculpe. – repetia Caleb sem parar, enquanto tirava a camisa dele de meu corpo, ainda imóvel.
   Estou consciente mas meu corpo continua sem responder aos meus comandos, mesmo o simples fato de dizer alguma coisa. Caleb largou-me lá, no chão, e saiu correndo. Não sei quanto tempo ele demorou mas, quando voltou, estava com um balde de água. Encheu a banheira de água, destrançou meus cabelos e colocou-me dentro da banheira. Com uma esponja, limpou o sangue de meu corpo.
   -- Droga! – xingou novamente – Antonietta, fala alguma coisa por favor.
   Novamente, eu tentei. Mas acho que meus lábios apenas mexeram e os olhos de Caleb estavam úmidos. Ele terminou de me banhar e secar e, logo após, vestiu em mim meu vestido. Ele era branco, mas, agora, continha manchas avermelhadas que, sinceramente, o deixava mais bonito. Acho que apaguei, não sei. Mas, quando tornei a acordar, acho que estava com febre. Caleb punha em minha testa uma toalha molhada repetidas vezes e murmurava algo que não consigo entender.
   Creio que algumas horas depois, a febre passou e eu finalmente consegui fazer meu corpo me obedecer. Sentei-me na cama e observei o estrago em meu corpo. Minhas pernas tinham arranhões arrochados por toda parte e meus braços estavam vermelhos, meu cabelo estava solto e desembaraçado, embora os preciosos caracóis dele estejam desfeitos. Caleb está sentado de costas para mim, mexendo em alguma coisa em frente à fogueira.
  -- Caleb. – chamei e ele levantou praticamente num pulo vindo até mim. – Você é meu sequestrador. Por favor, me mata logo.
   Nem eu mesma acreditei no que acabou de sair de meus lábios. Mas eu não disse para fazer show! Era realmente o meu desejo. Não vou dizer onde minha família mora por nada deste mundo e prefiro morrer logo do que ficar apanhando aos poucos como já acontecera duas vezes só esta semana.
   -- Não sou seu sequestrador, sou seu prometido. – a voz dele era um fio quando disse e eu precisei me inclinar em direção a ele para conseguir entender. – Quando é que você vai entender que se eu te quisesse morta, já teria matado?
   -- Você me sequestrou. Como quer que eu confie em você? Nem te conheço direito! – apesar das palavras cortantes, minha voz está muito calma. Calma até demais para o meu gosto, mas, falar ainda é um esforço enorme quando todo o corpo lateja de dor.
   -- Eu também não te conheço e mesmo assim confiaria minha vida a você, com os olhos fechados.
  -- Você é tolo de confiar em mim. O que sou para você? Uma criança, seqüestrada, que dá mais trabalho que lucro. – disse, já quase sem forças para continuar a falar. – Já parou para pensar que eu devo valer mais morta do que viva? Que não vale a pena passar por esse esforço todo por causa de uma criança?
   Eu praticamente cuspi as palavras, e ele percebeu, notou que mesmo minha voz estando fraca, estava carregada de raiva. O olhar dele era triste, isso eu conseguia perceber. Ele olhava bem fundo nos meus olhos, como se em um diálogo mudo.
   -- E você é tola por pensar que em algum momento eu pensei em matá-la! – esbravejou ele, fazendo cada pelo do meu corpo estremecer – Você não é criança, Antonietta, pelo amor de Deus, entenda isso de uma vez por todas. Para quem me forçou a sequestrá-la, talvez realmente valha mais morta que viva. Mas para mim? Se você morrer eu morro junto.
   -- Você mal me conhece. Como pode dizer que morreria junto comigo?
   -- Não sei, Antonietta. Eu só sinto... Não tem como explicar.
   -- Sente o quê? – perguntei, minha voz mais fraca do que já estava antes.
   -- Sinto que gosto muito de você. – disse ele, ainda cabisbaixo. – Sinto que te amo.
   E saiu a passos largos pelo longo corredor de pedra ali perto, deixando-me sozinha e confusa.
...
   Mesmo algumas horas depois do ocorrido, eu ainda estou sozinha ao pé da fogueira, tentando desesperadamente me esquentar, pestanejando o dia que saí de casa com um vestido tão curto e fresco. Estou com fome e com medo de o sujeito da barba branca voltar a me atacar.
   As palavras de Caleb ainda ecoam em minha mente. Penso que, se ele me amasse como diz, a ponto de morrer junto comigo, por que raios me mantêm nesse lugar? E por que eu sinto uma vontade tão desesperadora de salvá-lo, protegê-lo? Estranho.
   Algum tempo depois, eu estava tão perdida em devaneios que nem percebi Caleb entrar na sala e sentar-se ao meu lado no colchão, abraçando as próprias pernas e olhando para o fogo. Sua expressão era incompreensível e também parecia perdido em devaneios. Percebendo sua distração, comecei a observá-lo. Sob a luz da fogueira, pude perceber como seus cabelos loiros parecia platinados de tão claros e continham ondas por toda parte, emoldurando o garoto. Assim, pensando, ele finalmente parecia-me como um adolescente comum, até mais jovem do que era. Sua cicatriz era menos assustadora na iluminação que ali havia e, como consegui perceber, também era menor. Apenas um risco mais escuro que sua pele pálida e que não parecia poder ser sentida à mão. Quando dei por mim, percebi que ele também me observava, com os olhos atentos no meu rosto. Foi quando sua mão esticou e pegou um dos caracóis de meu cabelo vermelho-fogo.
   -- Mesmo machucada e descabelada, é tão linda. – disse ele e, quando percebeu, desviou o olhar
   -- A história que me contou sobre a cicatriz é verdadeira? – perguntei.
   -- É. – ele suspirou – Embora o motivo que me levou a fazê-lo não foi exatamente o que lhe disse.
   -- Me conte. – exigi, com a voz nada gentil.
   -- Eu tinha 16. Meu tio foi quem me mandou cometer tal coisa e só aceitei por conta de minha raiva no dia. – ele calou-se, fitando o fogo.
   -- E por que a raiva?
   -- Se eu fosse você, preferiria não saber.
  -- Fala. Minha paciência também não é das melhores e não confio em você nem para vigiar uma formiga.
   -- Eu estava com raiva por que vi você com um garoto.
   Eu lembrava. Aos meus doze anos, encorajada por milhares de amigas idiotas, namorei um garoto de minha idade, meu vizinho, na verdade. Thiago ficou comigo por cerca de dois meses, nosso relacionamento sempre escondido dos outros que não eram de nossa idade. Como Caleb viu? E como ele me conhecia? Mas, na verdade, não foi isso que chamou minha atenção e sim o fato de ele ter ficado com raiva. Não faz sentido ter raiva de alguém que você sequer conhece. Agora, sinto-me culpada. De certo, fui a responsável por sua cicatriz.
   -- Por que se importar tanto com alguém que sequer conhece? – perguntei.
   -- Tem coisas que a gente não precisa conhecer para sentir. O dia que você conseguir entender, também entenderá por quê está aqui.

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